O Impacto do Primeiro Contato na Evolução das Civilizações XIV

por Cássio Siqueira

Conclusões

Este ensaio propõe uma análise limitada e por vezes ingênua das circunstâncias que de alguma forma influenciariam um evento tipo Primeiro Contato, bem como suas implicações na evolução das civilizações de nosso planeta. Embora tenha sido apresentada uma “fotografia” estática sobre como tal evento se desdobraria, especular sobre o futuro do relacionamento entre visitados e visitantes é um pouco mais difícil. Mas é possível sim revisitar exemplos de nossa história de forma a nos permitir extrapolar uma análise do desenvolvimento das relações entre as diferentes culturas, e sugiro focar as atenções em dois aspectos que se sobressaíram como cruciais no decorrer deste texto:

  • Intenções
  • Desenvolvimento tecnológico

Nada podemos fazer quanto a esses fatores nos alienígenas, e justamente por desconhecer esses parâmetros é que me parece aconselhável propor um esforço para que nossas intenções e tecnologias se desenvolvam de forma harmônica e equilibrada, com o intuito de aumentar nossas chances de uma bem sucedida negociação com nossos visitantes. O aperfeiçoamento das civilizações de nosso planeta se impõe como imperiosa necessidade de sobrevivência de nossos valores, nossos diversos modos de vida, e talvez até mesmo da sobrevivência de nossa própria espécie.

Colocado dessa forma, o objetivo parece ser de exclusiva responsabilidade de decision makers, de políticos de alto escalão, de planos de Estado – aqueles que governos eleitos devem seguir, independentemente de inclinações ideológicas – mas nada poderia estar mais longe da realidade. As evoluções comportamental e tecnológico-científica têm como base os valores do cidadão comum; qualquer pessoa que trabalhe contra forças retrógradas já trabalha a favor da agenda aqui proposta.

Entretanto, um esclarecimento se faz aqui necessário: embora a expressão forças retrógradas seja de fácil entendimento, o termo vem carregado de ideias pejorativas que exigiriam explicações que nos dias de hoje poderiam ocupar dezenas de páginas. Deixo aqui então uma proposta simples de um homem simples para avaliação do leitor, que pode acatá-la total ou parcialmente, ou até mesmo desconsiderá-la completamente. Quando consideramos como “pecados” universalmente reconhecidos ações como mentiras (aquelas usadas para obter vantagens pessoais ou com o objetivo de destruir reputações), roubos e assassinatos, proponho que o leitor considere como forças retrógradas a indiferença, a omissão, o incentivo e a prática daqueles três “pecados”. Há quem argumente que tudo seria válido caso o objetivo final seja nobre. Pessoalmente, discordo desse ponto de vista, e não acho que “o fim justifique os meios”; acho inclusive que a seleção dos procedimentos e ações para a consecução dos objetivos é tão importante quanto a escolha do objetivo. Talvez até mais. Cabem então ao leitor o discernimento e o exercício de seu livre arbítrio para decidir se prioriza seus objetivos custe o que custar, ou se opta pelo respeito a um código de conduta, mesmo que à custa do almejado resultado final.

Uma vez esclarecido como vejo a agenda do desenvolvimento comportamental de nossa civilização, os objetivos de evolução técnico-científica seguem fundamentados nessas práticas. Aquelas forças retrógradas a que me referi poderiam, por exemplo, fundamentar ações como os ataques de crackers a sistemas informatizados (tem sido cada vez mais consensual o uso do termo hacker para especialistas em segurança, e cracker para aqueles especializados em fraudes e roubo de dados). E em que pese sim o fato de que ainda há muito o que se deva corrigir em nosso planeta, isso não invalida o esforço de investimentos massivos em pesquisa de base, viagens interplanetárias, desenvolvimentos médicos – incluindo os de estética: pense nas vítimas de queimadura, por exemplo – e outras tantas áreas da ciência, incluindo segurança e defesa, como vimos no já mencionado filme Jogos do Poder.

Para ilustrar a necessidade de fomentar o desenvolvimento multidimensional dos povos da Terra, preparei uma tabela dos possíveis tipos de relacionamento que podem ser desenvolvidos a partir de um hipotético primeiro contato. Por “Tipo” entenda Tipo Kardashev.

  • Mesmo tipo: Potencialmente perigoso para ambos. Negociações e trocas são mutuamente vantajosas, diferentes pontos de vista sobre determinados aspectos de vida podem levar a descobertas improváveis.
  • Tipos Contíguos: Potencialmente perigoso para os menos avançados tecnologicamente. Negociações e trocas podem ser mutuamente vantajosas, e pode haver uma real e desinteressada vontade dos mais avançados em contribuir para a evolução dos menos avançados, mesmo com restrição/hesitação no repasse de tecnologia.
  • Tipos Separados: Total incapacidade de reação para os menos avançados. Parte mais avançada realiza o que julga ser necessário, e o poder de negociação dos menos avançados é nulo ou próximo de zero.

 

Mesmo Tipo
Tipos Contíguos
Tipos Separados
Civilizações equivalentes
Valem regras normais de negociação.
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Somos mais avançados
Valem regras normais de negociação. É possível exigir mais.
Primeira Diretriz. Risco de explotação[39].
Desconhecido. Especular em uns mil anos.
Somos menos avançados
Valem regras normais de negociação. Deve-se ceder mais.
Prováveis benefícios sem o repasse de tecnologia.
Se não for possível evitar o contato, relaxe e aproveite.
Indivíduo equivalente
Sinais de civilização?
Diferenças em aspectos específicos. Espere comportamento semelhante ao nosso.
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Indivíduo mais avançado
Sinais de civilização?
A prioridade é entender suas intenções.
Sinais de civilização?
A prioridade é entender suas intenções.
Alerta. Prudência sugere evitar o contato, se possível.
Indivíduo menos avançado
Sinais de civilização?
Avalie a necessidade do contato.
Sinais de civilização?
Avalie a necessidade do contato.

Preservação de meio ambiente e produção de itens desejados.

Notas

[39]
Para as geociências, a explotação, ou exploração em português de Portugal, é um termo técnico usado para referir a retirada, extração ou obtenção de recursos naturais, geralmente não renováveis, para fins de aproveitamento econômico, pelo seu beneficiamento, transformação e utilização. Veja mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Explota%C3%A7%C3%A3o_de_recursos_naturais (21/09/2020)

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