por Cássio Siqueira
Afinal, o que é “civilização”?
Novamente recorro ao dicionário online[2]:
- Conjunto das características próprias da vida intelectual, social, cultural, tecnológica etc., que são capazes de compor e definir o desenvolvimento de uma sociedade ou de um país.
- Condição daquilo que se encontra em avanço; desenvolvimento cultural; progresso.
- Tipo de sociedade e/ou de cultura que se desenvolve a partir da influência de um povo, numa certa época, cujas características específicas serão transmitidas às gerações que se seguirão: Civilização Maia.
- Estado ou condição daquilo que se conseguiu civilizar.
Agora que já apresentei ao leitor minhas leigas impressões sobre o assunto, continuo na tentativa de responder sobre o que seria civilização reproduzindo as percepções e interpretações de uma polêmica antropóloga sobre fatos concretos por ela observados. Em recente artigo[6] de Adnelson Borges de Campos:
…um aluno perguntou à antropóloga estadunidense Margaret Mead[7], falecida em 1978, qual era o primeiro sinal de civilização em uma cultura. (…) a antropóloga respondeu que foi a descoberta de um fêmur quebrado, depois cicatrizado.
Segundo Mead, o laboriosamente misericordioso comportamento de cuidar de alguém que tenha sido impedido de prover o próprio sustento no mínimo estabelece, embora de forma pouco palpável, um dos pioneiros sinais de civilização. Viajantes interestelares poderiam procurar por esses sinais em populações que viessem a encontrar, mas o acaso pode não favorecer esse tipo de observação. Uma forma de contornar esse problema é proposta no pesado “The Empath”[8] da série Star Trek, no qual seres poderosos infligem sofrimento para analisar as reações de outras espécies. O episódio choca justamente porque se reconhece o pragmatismo da ação, mas nossa cultura tem por hábito submeter propostas de ações a valores éticos e morais, prática aparentemente inexistente nos torturadores.
Outra opção seria buscar por sinais mais concretos de civilização, como os existentes em nosso próprio planeta: Göbekli Tepe[9] é até agora a mais antiga construção já encontrada erigida em um perene e coordenado esforço coletivo sem finalidade prática alguma salvo a de, provavelmente, render homenagens a deidades. O dilatado tempo necessário para sua construção, a necessidade de trabalho conjunto e coordenado entre diferentes grupos, e os objetivos do monumento – provavelmente altruístas – demonstram razões e ações um passo além das típicas habilidades sociais observadas em grupos de caçadores/catadores de até então. E a idade de aproximados 12.000 anos do sítio arqueológico mostra o quão recente é o fenômeno civilizatório quando comparado ao tempo de existência da raça humana (veja mais sobre o tema no artigo o berço da civilização[10]). Para que se tenha uma ideia das proporções de tempo de que estamos falando aqui, considere que em nosso planeta o fenômeno “vida inteligente civilizada” precisou de aproximados 4,5 bilhões de anos para se desenvolver; os 12 mil anos de civilização podem quase ser desprezados nessa continha rápida.
O fator crítico aqui é que temos apenas pouco menos de 1 milhão de anos para migrarmos para outro planeta sob pena de sermos extintos pelo ciclo de vida de nosso Sol. Esse tempo representa apenas 0,02% da existência de nosso planeta, um período incomodamente curto para sermos percebidos por qualquer exocivilização. E nossas ondas moduladas de rádio, o mais claro sinal de vida inteligente para extraterrestres, ainda sequer chegam a somar 100 anos de existência, com um alcance de igual dimensão em anos-luz contados a partir de nosso planeta. Estatísticas não parecem mesmo favorecer o surgimento de espécies interestelares pelo universo, como veremos a seguir.
Na próxima semana: Quantidade de Civilizações em nossa galáxia
Notas
[2]
https://www.dicio.com.br/civilizacao/ em 18/09/2020.
[3]
https://pt.quora.com/Se-a-vida-%C3%A9-um-jogo-quais-s%C3%A3o-ou-onde-estariam-as-regras/answer/C%C3%A1ssio-Siqueira em 04/10/2020
[4]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Determinismo em 04/10/2020.
[5]
Para citar apenas um exemplo de nossa história recente, consulte “Neocolonialismo”: https://pt.wikipedia.org/wiki/Neocolonialismo em 04/10/2020. Na ficção, leia “Coração das Trevas”, de Joseph Conrad, obra que teria dado origem ao inspirado “Apocalipse Now”, de Francis Ford Coppola.
[6]
http://www.gazetainformativa.com.br/um-simples-osso-cicatrizado/ em 18/09/2020.
[7]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Margaret_Mead em 18/09/2020. Vale notar que o inovador olhar de Mead sobre o comportamento de adolescentes em sociedades ainda não convertidas ao cristianismo permanece um tópico de acalorado debate até os dias de hoje.
[8]
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Empath em 18/09/2020.
[9]
https://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%B6bekli_Tepe em 18/09/2020.
[10]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ber%C3%A7o_da_civiliza%C3%A7%C3%A3o em 18/09/2020.
Comentários
Postar um comentário