O Impacto do Primeiro Contato na Evolução das Civilizações XI

por Cássio Siqueira

Humanidade adolescente

Tão emocionalmente desagradável quanto intelectualmente estimulante, “O Senhor das Moscas” do laureado William Golding mostra a luta pelo poder em um grupo de meninos náufragos repentinamente interrompida pela chegada do resgate, que só acontece no final da estória. Se um evento de Primeiro Contato pode ser comparado a esse resgate, será que caberia uma comparação da humanidade com os meninos?

Acho que não mais. A infância, afinal, é aquela fase despreocupada de nossas vidas quando muitas vezes nos comportamos de forma meio birrenta, uma fase na qual nossos pais nos fornecem o sustento e nada nos falta. Seria como se a Mãe Natureza nos fornecesse tudo de que precisamos para sobreviver, uma realidade cujas exceções hoje cada vez mais frequentes só confirmam a certeza de estarmos sistematicamente nos encaminhando para seu fim. Estamos começando a entender a necessidade de administrar os finitos recursos de nosso planeta, e que é melhor procurar conviver com diferenças do que eliminar os diferentes. Sim, acho que as diferentes civilizações humanas (na proposta de Samuel P. Huntington[29]: as civilizações ocidental, islâmica, ortodoxa, budista, hindu, africana, latino-americana, chinesa e japonesa) – algumas mais cedo, outras nem tanto – estão entrando na adolescência. Prevejo que assim como para qualquer adolescente, esse será um período ao mesmo tempo turbulento e excitante, tanto pelos desafios que enfrentaremos como pelas conquistas alcançadas.

O primeiro grande desafio, todos já sabem, é o da convivência pacífica entre os diferentes ao mesmo tempo em que a implantação de uma necessária e justa administração de recursos se impõe. Perceba que “pacífica” não significa “sem problemas” e nem “sem divergências”. Seria um bom começo sobreviver à adolescência para que talvez, e apenas talvez, possamos algum dia almejar chegar à fase adulta de nossa espécie/civilização, já que invariavelmente seremos forçados pelas mudanças em nosso Sol a abandonar o planeta Terra, se sobrevivermos até lá. O prazo é meio dilatado, algo entre 700 mil e 1 milhão de anos, que embora pareça ser uma fração insignificante dos 4 bilhões de anos que nosso planeta precisou até que vida inteligente se manifestasse, é suficientemente longo para que aprendamos mais sobre nossa galáxia, selecionemos exoplanetas viáveis para colonização e realizemos os mais adequados planos de viagem interplanetária que tivermos. Talvez aí Isaac Asimov, que esteja em bom lugar, fique feliz em testemunhar fatos que possam levar a realidades análogas àquelas previstas em seu clássico “Fundação”, ao iniciarmos o processo de expansão do domínio humano em nossa galáxia. E talvez até venhamos a ter a oportunidade realizar eventos de Primeiro Contato, pela primeira vez, com civilizações de Tipos Kardashev menores que o nosso próprio.

Na próxima semana: O interessante caso das IA

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