O Impacto do Primeiro Contato na Evolução das Civilizações XIII

por Cássio Siqueira

O interessante caso das IA - Objetivos

Bem, como o tema do livro é explorar situações de Primeiro Contato, então devo supor que a situação a ser proposta aqui, nesta seção do livro, seja a possibilidade de um dispositivo automatizado dotado de inteligência artificial aparecer por aqui. Sem interessar se o encontro seja fortuito ou proposital, consigo apenas identificar três possíveis objetivos para que máquinas sejam lançadas ao espaço para a realização automatizada de tarefas: 

  • Expedição Científica. Não é improvável que civilizações mais adiantadas enviem sondas automatizadas para coletar informações e aumentar o conhecimento sobre o universo que nos rodeia. Nós mesmos já fazemos isso desde meados do século passado; o desejo de saber mais sempre existiu e tem permeado a história da humanidade desde o aparecimento dos primeiros grupos humanos – talvez até antes disso. Parece sensato concluir que seres em outros planetas optem por fazer o mesmo.
  • Extração de recursos/mineração. Depois da pesquisa, é natural que se pense em fazer uso do conhecimento amealhado para melhorar a qualidade de vida e, talvez, até reinvestir em mais pesquisa.
  • Terraformação, ou a lenta, sistemática e inevitável modificação e adequação de planetas candidatos a hospedarem civilizações alienígenas em processos colonizatórios ou de forçada migração (embora não envolva diretamente quaisquer IAs em processos decisórios, veja Man of Steel[37], de Zack Snyder, para ver mais sobre o tema).

É bastante possível que IAs alienígenas “sobrevoem” o sistema Solar sem nos dar a menor atenção simplesmente porque sua programação não contempla a atividade de comunicação com uma sociedade CETI como a nossa. Assim como pode ser que sondas venham a ser programadas especificamente com esse objetivo.

Código de Conduta

E se o objetivo dessa sonda for, por qualquer motivo que seja, “consiga hemoglobina”? Novamente, há poucos fatores que podemos rapidamente analisar:

  • Uma IA evoluída não necessariamente compartilha da mesma visão que temos sobre o que é ou o que deixa de ser “virtude”. Para ela, talvez virtude seja apenas conseguir o objetivo de sua programação com o máximo de eficiência (eficiência = eficácia + economia de recursos) possível. Ou talvez, deseje apenas ser eficaz, custe o que custar. Mas se tivermos sorte, sua evolução teria sido conseguida com a ajuda de um ecossistema similar àquele já mencionado em parágrafos anteriores, e a IA teria princípios similares aos nossos.
  • O nível de evolução tecnológica é também fator determinante na relação que se estabeleceria entre a IA alienígena e a humanidade. Na melhor das hipóteses, estaremos ambos em aproximadamente o mesmo nível da escala Kardashev.

A conclusão que se impõe é a de que só devemos nos preocupar com IAs alienígenas que se apresentem com aproximadamente o mesmo nível de evolução tecnológica que o nosso, pouco mais pouco menos. Essa é a única situação na qual vislumbraríamos algum espaço para ação, e na qual teríamos chances contra IAs cujas condutas nos sejam tóxicas (o filme Oblivion[38], de Joseph Kosinski, nos dá uma dimensão de como poderia ser esse tipo de situação). Se houver um ou mais graus Kardashev de separação, como o proposto por Clarke em 2001…, não haveria nada que pudesse ser feito, e uma das duas situações abaixo pode acontecer:

  • Restar-nos-ia apenas o papel de observadores no desenrolar dos acontecimentos que definiriam nosso destino; mas
  • Se tivermos sorte, pode até ser que nem percebamos a influência da tal IA em nossas vidas.

Na próxima semana, o último artigo da série: Conclusões

Notas

[37]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Man_of_Steel_(filme)

[38]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Oblivion_(filme)

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