A segunda parte da série sobre o artigo de Cássio Siqueira no livro de Wendell Stein.
Evolução
Sob a influência da ficção científica, meu olhar leigo sobre o aparecimento e a evolução de civilizações me leva a propor o seguinte cronograma:
- Manifestação de vida inteligente
- Uso de ferramentas
- Desenvolvimento de vida em sociedade
- Desenvolvimento de cultura (no sentido antropológico do termo)
- Civilização
- Administração de recursos
- Viagens espaciais
- Colonização de outros corpos celestes
Já confessando minhas severas limitações no conhecimento de antropologia, enfatizo que ficarei feliz em alterar esse cronograma se qualquer estudioso da área que porventura esbarre com este texto deseje contribuir. Também quero deixar clara a minha incapacidade em definir “inteligência” e “civilização” apesar de, na maior parte das vezes, considerar-me capaz de reconhecer a manifestação desses fenômenos.
Segundo o www.dicio.com.br, o substantivo evolução tem duas interpretações:
- Teoria de acordo com a qual as espécies sofrem alterações pela ação das mutações e pela seleção natural: evolução das espécies.
- Progresso; processo em que há modificação constante e progressiva, alterando um estado ou uma condição.
Para este texto, convido o leitor a fazer uso mais frequente da segunda interpretação, que acredito ser a mais corriqueira e de uso mais universal. Há portanto a ideia, a intenção, o propósito de melhorar com o passar do tempo, e essa caminhada se dá respeitando aqueles conceitos basilares de qualquer civilização de nosso planeta, a ideia culturalmente arraigada e um tanto ingenuamente maniqueísta da existência do bem em oposição à existência do mal. Essa tal caminhada pode nos levar a crer que civilizações contemporâneas são mais “evoluídas”, mais “avançadas” do que aquelas mais antigas, o que é geralmente verdade quando pensamos em termos de complexidade, mas não se pode generalizar: há exemplos brutais de aspectos nos quais civilizações hoje extintas nos dariam um banho de competência, realização e conhecimento. O exemplo que me é mais familiar é o daquela antiga civilização egípcia que construiu as pirâmides, um feito ainda sem paralelo nas civilizações mais tardias, e cuja técnica de execução nos é ainda um mistério absoluto. Em que pese a existência de muitos feitos em nossa história que desafiem a atual capacidade de explicá-los, minha vaidade me permitiria afirmar que pelo menos socialmente a raça humana vem desenvolvendo estilos de vida cada vez mais confortáveis, fato mais facilmente verificável especialmente a partir de meados do século XIX.
Caberia então perguntar: a evolução das civilizações espelha a evolução de seus indivíduos? De que forma as diferentes culturas impactam o comportamento das pessoas? (e vice-versa) Nossas mais amplamente aceitas referências desses quesitos ocorrem dentro de religiões, mas longe de mim propor conceitos que privilegiem uma religião específica em detrimento de quaisquer outras. Por conta disso convido o leitor a ensaiar suas próprias classificações de evolução humana de acordo com suas crenças, cultura e experiências. Para aqueles que tiverem dificuldade em fazê-lo, permitam-me apresentar minha própria escala de evolução “espiritual” – ou, de forma mais adequada para essa nossa informal exposição, “comportamental”–, uma escala de uso personalíssimo com a qual classifico os seres humanos com quem me relaciono:
- Torcedores de futebol. A maior parte da humanidade encontra-se nesse patamar evolutivo. Como humano mediano, devem-se esperar ações e atitudes de… bem, humanos medianos. Na maior parte das vezes trabalham, pagam seus impostos e lutam pela própria felicidade, e não há nada de errado nisso;
- Comedores de salada que não se importam de comer churrasco de vez em quando. Estão em um patamar acima do anterior apenas pela preocupação em não consumir exageradamente e pelo reconhecimento de que seu corpo pode se beneficiar de um pouco de manutenção e bons hábitos;
- Líderes religiosos e seres santos. São na verdade gente comum com uma lista de ações pela manifestação de justiça, e uma legítima preocupação pelo tema;
- Seres que se alimentam de luz. Esses quase não precisam das experiências terrenas, e encontram-se encarnados apenas porque querem ajudar todas as criaturas.
Note que não se tratam de categorias-estanque já que todos nós nos identificamos com cada um desses níveis em diferentes ocasiões de nossa vida. Mas nosso comportamento se estabiliza com mais frequência neste ou naquele patamar, e o reconhecimento desse fato é tanto uma jornada de autoconhecimento quanto um exercício de autocrítica. Perceba também que essa escala reflete meu privilegiadíssimo estilo de vida do sudeste brasileiro, que contrasta enormemente de realidades que podem ser tão próximas quanto diferentes, como a de áreas mais degradadas da periferia de minha própria cidade, sem esquecer os extremos das realidades daqueles que enfrentam desde as típicas dificuldades de estilos de vida rurais de países em desenvolvimento até as tristíssimas situações geradas por conflitos ao redor do globo. O leitor deve então adotar a classificação que melhor lhe convier para sua vida pessoal e que contemple os temas que lhe sejam caros, mas para efeitos da simplicidade deste texto convido todos a considerar apenas duas categorias de entidades: altruístas bem intencionadas, e egoístas de má fé. Vale reforçar que a simplificação proposta é válida tanto para humanos como para alienígenas.
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