por Cássio Siqueira
Aparência
Há um segundo fator, nem sempre vinculado a ações, que o leitor deve levar em conta e que atua muito fortemente de maneira conjunta ao que foi exposto no item anterior. Nossa cultura nos ensina a associar aparência a intenções: o mau é feio e o bom, bonito. E é certo que não se deve “julgar o livro pela capa”, mas quero lembrar o leitor de outras duas referências à aparência. A primeira, o dito popular que afirma “nos menores frascos estão os melhores perfumes”, bem como sua réplica “assim como os piores venenos”. As sentenças fazem lembrar que embalagens (“aparências”, no caso desta exposição) carregam sim alguma mensagem, uma pista sobre seu conteúdo, se preferir. Já a segunda referência, bem como seu melhor exemplo para minha geração (sou um “Geração X” de 55 anos de idade na elaboração deste texto), é a afirmação de que refrigerantes KS (garrafinha) têm sabor melhor do que aqueles em garrafas PET de qualquer tamanho. É a não tão bem comprovada constatação de que a embalagem altera sim alguma qualidade do conteúdo, como na conhecida influência que roupas elegantes parecem exercer sobre seus usuários. Mas parábolas, hipérboles e metáforas à parte, penso que é interessante que o leitor leve essas comparações em consideração na próxima vez em que houver um primeiro contato com criaturas de outras culturas, alienígenas ou não.
Claro que a indústria cinematográfica vem explorando essa característica (ou seria essa uma fraqueza?) cultural, apesar da existência de exemplos como o do ET de Carlo Rambaldi e Stephen Spielberg, um alienígena “bonzinho” que dificilmente pode ser considerado bonito, mas que está longe de ter a visceralmente ameaçadora aparência do xenomorfo de H. R. Giger e Ridley Scott. Já no filme britânico “Lifeforce”, em que se observam exemplos no extremo oposto do espectro, o diretor Tobe Hooper nos apresenta alienígenas irresistivelmente bonitos, mas de influência inegavelmente tóxica. Aparências podem mesmo ser armadilhas, e a natureza é pródiga em exemplos de caçadores implacáveis que adotam estratégias de mimetismo.
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