O Impacto do Primeiro Contato na Evolução das Civilizações IV

por Cássio Siqueira

Máquinas e tecnologia

Em um dos eventos da Base Estelar Campinas, o sempre presente Mancini Jr. ensinou-me os conceitos principais da Escala de Kardashev, que invoco em nosso auxílio na missão de classificar civilizações na área específica de seus avanços tecnológicos, nosso terceiro e último fator de análise das civilizações. Nikolai Kardashev, um astrofísico soviético, propôs a tal escala em 1964 para isso: as civilizações “Tipo I” seriam capazes de coletar toda a energia de um planeta, uns 10^16 Watts, ou 1,74 x 10^17 no caso específico do nosso planeta. Civilizações “Tipo II” aproveitam até a totalidade de energia gerada por sua estrela hospedeira, algo em torno de 4 x 10^26 Watts. Finalmente, civilizações “Tipo III” aproveitariam até a totalidade de energia gerada em uma galáxia, ou algo perto de 10^36 Watts. Claro que se especula sobre a possibilidade de Tipos de grau mais elevado, mas quero me restringir apenas a esses quatro primeiros tipos – de zero a III – para os propósitos de nossas especulações (nossa civilização está classificada como 0,6 ou 0,7 nessa escala, dependendo da fonte consultada; e o físico estadunidense Michio Kako estima que devamos alcançar o estado de civilização Tipo I em mais ou menos um século*).

É bom enfatizar que este consumo de energia não é objetivo, é consequência. Em uma grosseira comparação, especulo que o consumo de energia elétrica de uma residência comum em 2020 poderia ter sido capaz de prover a necessidade energética de um bairro inteiro no final da década de 1950. Perceba que não se trata do fato de sermos esbanjadores, mas porque a tecnologia evoluiu de forma a produzir feitos que pareceriam milagres – ou bruxaria – setenta anos atrás, com as previsíveis consequências em produção, consumo e administração de energia. Minha avó me falava em tom de profecia da televisão fina como um quadro, e que seria pendura na parede. Eu, então estudante de eletrônica, pensava na dificuldade da realização da proposta, imaginando de que forma um Tubo de Raios Catódicos poderia ficar tão fino. Nem me passava pela cabeça o uso de Diodos Emissores de Luz, os hoje onipresentes LEDs. Da mesma forma, cientistas especulam que os feitos tecnológicos de sociedades mais complexas pareceriam mágicos para gente como nós, como postula a terceira lei de Clarke (Arthur C.): “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia.” Um bom exemplo desse tipo de sociedade avançada é o irritantemente adorável personagem Q em “Star Trek Nova Geração”. À exceção de sua rabugice, considero o personagem um rascunho muito bom de como podemos parecer aos olhos de nossos animais de estimação.

Na próxima semana: Afinal, o que é "Civilização"?

Notas

* Fonte: vídeo do canal What If no YouTube: "Discussed: What If We Became a Type II Civilization? - with Michio Kaku | Episode 10"

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